terça-feira

Tempo

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói até o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembleias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.

Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

Já não tenho tanto tempo pra explicar "porque" não vou modificar meus hábitos, ou porque eu gosto de ser como eu sou. Nem tentar induzir as pessoas a me enxergar além de risos e goles desperdiçados numa noite efusiva. Não vou perder este tempo, pois isto não vai trazer de volta as jabuticabas que eu já comi. Muito menos fazer ninguém ver além do que eu consigo mostrar.
Como diria Saint - Exupéry: " Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."

Já não tenho tempo pra nada disso. Mas continuo comendo as jabuticabas da bacia...
e vou roendo até o caroço!

domingo

Uma verdadeira liberdade de excreção!

FESTIVAL DE VERÃO DE SALVADOR NO RECIFE...Esse vai MATAR você...
Uma verdadeira poluição sonora repleta de cretinices infinitamente inúteis e desagradáveis.
É assim que posso definir minha traumatizante experiência no Festival de Verão do Recife (que deveria se chamar: Festival de Verão de Salvador no Recife).

PS: Lembrando que fui praticamente obrigada a comparecer no tal festival para acompanhar minha irmã que ainda padece de idade suficiente para freqüentar certos locais e de noções culturais, normal de uma adolescente em transição.

Na verdade eu já sabia o que iria enfrentar ali, mas não imaginava que poderia ser muito pior. E acreditem, foi. Jovens de classe média alta, bem aparentados, que certamente devem ter tudo para dar certo na vida... Completamente vazios e imbuídos da mídia selvagem. Desprendidos de valores sócio-culturais e amor próprio, mostram claramente que só uma “lavagem cerebral” pode restabelecer um equilíbrio. E assim poderíamos afastar definitivamente o axé-nojent-music de suas entranhas. “Deus tem piedade das nossas crianças, elas não sabem o que fazem”!

No palco, além de todo arsenal de som, luz e projeções toscas, e óbvio, além das atrocidades baianas; globais e ex-big bostas entoavam suas glórias em participarem de tal selvageria musical exercendo a função de animadores (?) culturais. Grupos medonhos tocando as mesmas e horripilantes músicas baianas de sempre (além de bregas, funk’s, forrós eletrônicos e ainda alguns hits internacionais), e como se não bastasse ter que ouvir a “canção do momento” da banda que estava no palco, se sentiam no "dever" de homenagear seus parceiros-conterrâneos, relembrando hits de dar um nó no juízo. Eu, que ironicamente ainda no início do show ousei:
- Bom pelo menos não vai ter Asa de Águia e a maravilhosa“dança da manivela”, ou ainda o refrão mais-que-imbecíl: “quebra aê, quebra aê, olha o asa aê”, me dei muito mal.

Falando em música baiana, lembro de muita gente defendendo o Carlinhos Brown no episódio do Rock In Rio. Uma porção de gente dizendo que foi um desrespeito com ele, que o público é animal, etc. Olha “animal” e “desrespeitoso” é o que os baianos fazem com nossos ouvidos.

Vou resumir minhas opiniões sobre cada atração, pois se eu tivesse mais paciência escreveria um livro sobre o assunto em questão.

Calipso: - Pra ser ruim tem que melhorar bastante.
A dita cuja nem é da "Bahia minha preta" mas se enquadra perfeitamente no caldeirão de futilidades da terra do acarajé. Cantando, a mulher lembra um abate suíno. O swing do Pará nada mais é que a lambada aperfeiçoada do grande Beto Barbosa, só que a lambada naquela época era massa... kkk. Um verdadeiro show de brega, começando pela estética dos cantores e dançarinos. E querem uma novidade? Vão tocar ano que vem no Galo da Madrugada...
Nossa senhora tem piedade de nós! Nem o Galo escapou desta invasão!

Chiclete com Banana: - Incrível como um músico ultrapassa a barreira do tempo e continua sendo ridículo e sem noção. Neste show a única coisa legal mesmo era ver as 70 mil “mãozinhas pro alto” chacoalhando sistemáticamente. Porém, descobrí que o tal Bel é um verdadeiro dominante deste reino animal. Se ele mandasse todos plantarem bananeira, todos fariam sem pensar duas vezes. Mesmo quem não sabe ficar de cabeça pra baixo arriscaria uma pirueta qualquer. Ele não canta (se é que ele cantava), ele apenas balbucia algumas introduções e a "galera impregnada", como o próprio denomina seus fãs, fazem todo o resto. E quando o helicóptero da Globo dava seus rasantes para registrar o “fenômeno baiano” ele dizia insistentemente:- Bora galera!! Mãozinha pra cima, vai, vai. vai!
....Neste momento eu queria ter o poder de ler pensamentos, com certeza seria algo do tipo:
- Vai bando de otário! Levanta a mão caralho!! A Globo ta filmando porra!!
Bom, ao menos um progresso foi visto na evolução do chilebananaman, ele não usa mais aquele “short jeans desfiado” ridículo
!
Claudia Leitte: - É Claudia Leitte com dois “t” mesmo (como ela faz questão de anunciar, se é que isso vai fazer alguma diferença). A cópia perfeita da queridinha do Brasil, Ivete. Tudo - nos mínimos detalhes – minuciosamente copiado. A voz, as letras, as roupas, o silicone, as coreografias, as projeções de imagens - breguíssimas, diga-se de passagem - (daquelas do Windows Media Player). A única diferença entre as duas? Claudia Leitte esquece as letras, é desajeitada quando tenta acompanhar seus bailarinos e não tem a menor graça quando tenta fazer piadinhas no meio do show. Altamente desinformada faz homenagem ao aniversário de Recife e esquece Olinda, um ato corrigido pela produção que fêz ela se vestir com uma bandeira de pernambuco (mais brega impossível). Tentou entoar "frevo mulher" duas vezes! Se perdeu logo na introdução. Insistente, tenta novamente. Esquece um bom pedaço da letra e como é digno dos baianos introduz o lê-lê-lê-lê-lê-lê pra disfarçar. Os músicos erram tudo e finalmente ela desiste. Pior foi ela tentar "frevar" !! Nossa mãe...Tem piedade dela, muita!!
Outra peculiaridade totalmente sem noção? Ela tenta emplacar músicas românticas como a nossa diva maior, o que é digno de gargalhadas.

Aviões do forró: - “Chupa, chupa, chupa que é de uva...” Esta música foi a mais esperada do evento, acreditem se quiser. Depois do: "beber, cair e levantar" esta é a nova sensção do momento. Garotões e garotinhas, coroas e até ”idosos” que se encontravam no local se deliciando numa coreografia ridícula e altamente pornográfica. Sem contar que os cantores (duas figuras bizarras) são meramente figurantes , pois quem comanda o show são as dançarinas (no total de 8). Denominadas de “aviões” elas levam os garotões ao delírio com seus pedaços de pano presos ao corpo e as garotinhas a entenderem de que pra ser uma mulher bem quista nesta sociedade, tem que ter rostinho bonito, corpinho violão, não entender nada sobre coisa nenhuma e ser uma dançarina de banda de sucesso. Remete ao "graças a deus" extinto É o Tchan!! (inclusive tem uma música com mesma nomeclatura).

Nando Reis: Bom, este eu deixo sem comentários. Graças a uma magnífica força divina (não sei exatamente qual) antes dele começar a embalar a galera com seus hits enjoados de último romântico, sofredor e saudosista consegui retirar minha irmã daquele antro e fomos embora do chiqueiro. Saí de lá com uma dor de cabeça terrível, pés inchados, e muita vergonha de ser Pernambucana. O festival de verão é do Recife, mas atrações daqui, só os idiotas que bancam esta palhaçada mesmo. Para a produção do evento? Saldos implacáveis e positivos. No mínimo um faturamento de 2 milhões por dia, isso calculando muito por baixo. É isso aí Pernambuco! Parabéns! Seria bom que também existisse todo este fôlego para se concentrar na construção de um mercado cultural auto-sustentável e democrático como existe na Bahia, lá a cultura funciona (não importa como).

E para não perder o embalo...
Agora a reboladinha pro Créu, rebola, rebola, rebola, rebola, Créu, Créu, Créu... Quebradinha Quebradinha quebradinha....treme treme treme treme treme treme que tem Créu!
E aí ta cansado ?

E que Deus tenha piedade destas pessoas. Elas não sabem o que fazem.

quinta-feira

ORGULHO?

É fácil ver nas ruas camisas estampadas com as cores de Pernambuco. Por todos os lados hinos que nos remetem à nossa história. Palavras com sotaque ríspido e sarcástico: sempre prontas para combater o preconceito sulista. Estamos cientes de nosso espaço e do poder da nossa cultura. Diante da certeza inequívoca de nossas virtudes seríamos, portanto, um exemplo de sociedade justa e que valoriza - a unhas e dentes - a nossa história? Não.Pernambuco é incapaz de preservar seu arquivo público, onde as traças reinam na terra dos leões. Os pernambucanos colecionam índices de violência e desigualdades alarmantes. A economia do referido estado permanece praticamente estagnada durante décadas. Prefere-se, por aqui, a faca ao diálogo. Mata-se compulsivamente e, preferencialmente, os que não podem se defender. A nossa polícia é assaltada pelos bandidos. Nossa saúde é sugada e vergonhosa, nossa educação é reconhecida como analfabeta, nosso“mercado” cultural não é proporcional ao fluxo de nossas criações e exportações, não temos um mercado sustentável. Aliás, somos péssimos mascates. Resta saber: qual o motivo de tanto orgulho?É arrogante ver a cultura profética e conservadora de Ariano Suassuna nos incitando a dizer, entre outras coisas, que a música pernambucana - sobretudo a popular – é infinitamente superior à música norte-americana ou de qualquer outra região do planeta. Ou que o frevo e seus múltiplos acordes entoados por gênios da música local e ainda seus passos tão complicados - domesticados por Nóbrega para exportação - são impossíveis de se reproduzirem com fidelidade e dignidade por alguém que não seja compatriota (logo chamamo-los de ladrões). Ou ainda, que a produção de esculturas de barro como única fonte de renda de cidades como Tracunhaém é motivo de empáfia, mesmo sabendo que existe uma população excluída da globalização naquele município.É de fazer chorar... Isso sim! Principalmente vendo alguns pernambucanos tão arrogantes quanto os sulistas ( nortistas, centro-oestistas, ou algum outro adjetivo pátrio pertinente) que nos vêem como um personagem de um folclore, que se orgulham de nossas proezas e esquecem de nosso desenvolvimento na cadeia produtiva nacional. Este tipo de orgulho não pode nos envaidecer. Resta-nos a pátina sobre os velhos problemas que reveste de cultura: a miséria, a ignorância e a desigualdade que impera Pernambuco. Não devemos mudar a paisagem bucólica e árida do sertão sob pena de descaracterizar nossas raízes? Não devemos mudar a invariável realidade pobre da Zona da Mata (não menos pobre devido aos pecúlios fornecidos aos mestres dos maracatus para que mantenham suas raízes, e sobrevivam dela)? Bom mesmo são as ruas sem asfalto, os buracos nas estradas, as crianças circenses nos sinais, os embusteiros desvirtuando nossa dignidade e nossos bens, nossas rádios promovendo “hits” de uma MTV prostituída, saber que existem várias rádios comunitárias no estado (porém sem a audiência), ver nossos artistas granjeando cachês, no mínimo, 5 vezes menores que os dos sulistas (e até alguns pernambusulistas), melhor é preservar intacta as feiras populares e sua total falta de organização logística, o que as torna cult, ao invés de sustentáveis e atraentes.Diante desta miséria, o refrão da cultura que orgulha e silencia nossos problemas por ostentar nos como diferentes – embora sejamos iguais à parte substancial do Brasil; portanto, miseráveis, me leva ao raciocínio triste, porém lógico de que se continuarmos vestindo fantasias vamos apenas ter orgulho da nossa cultura. Vamos esquecer de estudar, planejar estratégias, revolucionar e colocar em prática um Pernambuco inovador, que funciona em diversos aspectos, inclusive como criador e re-criador da cultura Brasileira.

Natural seria perguntar se o orgulho de nosso estado não é a origem da nossa miséria, ou a venda que nos impede de enxergar, dificultando o processo de evolução. Em Pernambuco a tradição vence sempre a modernidade, condenando-nos ao passado, incorruptível porque intangível.

Neste discurso, que até parece revoltado, vos digo apenas: ME ORGULHO DE ACREDITAR NUM FUTURO MELHOR PARA PERNAMBUCO!E que ninguém me condene por isso.

terça-feira

तेओरिअस, तेओरिअस

Teoria do caos segundo Lily:

Como ponto de partida, começamos do lugar ocupado pelo amor no discurso dos amantes e na poesia. Ao sublinhar a força do mito do amor, força esta sustentada pela promessa de felicidade plena nas chamadas "histórias de amor", podemos apontar também a estratégia desse mito em manter-se na promessa de felicidade constante, afastando o "impossível", uma das denominações do real, ou transformando este mesmo amor em "proibido", algo impactante nas almas dos que platonizam e sonham demais. Freud já observara que o amor tende a funcionar como "modelo de busca da felicidade" e reconhecera sua natureza ilusória no sentido de consolar e tornar tolerável o mal-estar próprio dos seres humanos de sempre desejar o que ainda não tem.
Buscas, planos, sonhos, insatisfações.

Delineando as diferenças e articulações entre o amor e o desejo, termos de uso comum que, na prática, ganham contornos originais, neste contexto podemos radicalizar:
- Emoções precisam ser vividas, ou melhor, inesquecíveis. Quando não o são por serem tenras, que o sejam quando trágicas, mas sejam sempre inesquecíveis.
O sofrimento é parte constante da evolução.

Na relação entre amor e paixão, podemos situar o "problema do amor". Suas diferentes formas, ou ainda sua poligamia - inerentes dos que tem grande coração (risos). Em todos os casos, o amor é proveniente da sublimação entre duas pessoas, da cumplicidade, do entendimento entre dois seres diferentes, a demonstração maior que um ser pode revelar ao outro em sua plenitude. Mas esta demonstração de amor nunca deve ser confundida com desejos imediatistas e orgásticos. Como já dizia a Rita "amor é divino, sexo é animal".

O desejo, já proveniente da selvageria (desejo de comer, de caçar, de mudar, de procriar), torna a situação mais instigante, porém, incerta, duvidosa, tortuos, inconstantes... onde não temos ou não queremos ter certezas. Onde encontramos verdades duras e onde somos imaturos ao limite, além de receiosos, covardes... Porém felizes! Assim, o desejo não é nada pessoal. É egoísta, inclusive, serve para saciar "suas" vontades, realizar "seus" anseios . Mas afinal, somos ou não somos animais?

Teorias complicadas:
O amor as vezes coincide com a paixão, as vezes não.
Amor as vezes coincide com o desejo, as vezes não.
Amor as vezes coincide com o casamento, as vezes não.
E o mais complicado: amor as vezes coincide com o amor, as vezes não.
Tudo muito confuso. Tudo muito duvidoso. Tudo muito maravilhoso.

Complicado? Sim. Podemos ser complicados, terríveis e impiedosos.
Egoístas, egocêntricos, infiéis com os outros, e pior, infiéis com nossos próprios desejos, o que é pior que qualquer traição. Mas somos humanos e dotados de de grandes qualidades também.
Salve-se quem puder! Amem e dêm vexame! Amar sem , sem posses, sem trocas. Podemos amar muito, muitos. É importante não esquecer amores passados, eles exitiram de fato e precisam de um lugar especial na sua prateleira de troféus. Colecionem, troquem, mas não deixem de exercer seu papel no mundo dos amantes. Ame e dê vexame!
"Deixe que o beijo dure, deixe que o tempo cure".

Mas lembrem bem de Vinicius e sua receita para viver um grande amor!

"Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso - para viver um grande amor".

sexta-feira

कल्तुरा पॉप?

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Produto brasileiro de maior aceitação no mercado internacional, único com acesso às redes globais de distribuição e à grande mídia global, a Musica Popular Brasileira ainda padece da ausência de uma política de desenvolvimento adequada.

O tema precisa ser tratado do ângulo estritamente econômico. Não é papel do estado selecionar o que é ou não é música a ser apoiada, mas sim, o de criar um ambiente microeconômico favorável, que permita o florescimento de uma indústria musical competitiva. As vantagens competitivas da música brasileira são evidentes. Tem-se o maior e melhor estoque de músicos instrumentais do planeta, um contingente apreciável de compositores e de composições de alta qualidade artística, uma variedade incomparável de ritmos – que vão da musica regional ao pop - arranjadores de primeira, cantores e cantoras de nível elevado e vários “pop stars” de projeção internacional.

Sempre é bom lembrar que, há não mais de 15 anos, o mercado da música regional era dominado pelas multinacionais. Talvez pela total falta de conhecimento das mesmas, apenas alguns artistas recebiam oportunidades. Com o ingresso das empresas locais e do estado (leis de incentivo a cultura), uns sem número de novos artistas foram apresentados ao público e a cena musical local evoluiu, começando a ganhar espaço e público.

O advento da musica digital, criou uma produção independente, onde milhares de músicos produzem seus próprios CDs - com qualidade digital - em estúdios caseiros ( ou não) espalhados por todo o país. O próprio artista tem controle total da produção propriamente dita (embalagem, design, produção) e da distribuição e vendagem da sua obra.

O mercado cultural interno brasileiro se escora em três pilares básicos: indústria fonográfica, sistema de radiodifusão e roteiro de shows. Teoricamente, lança-se o disco, o sistema de radiodifusão divulga e os shows cumprem o papel de apresentar o artista ao público consumidor. Este modelo esbarra em alguns pontos complexos, que dependem exclusivamente do governo para serem resolvidos. O primeiro, é a questão do direito autoral, um sistema pouco transparente e complexo; o segundo, e mais sério, diz respeito à indústria dos jabás, que acaba com a capacidade de inovação dos artistas e produtores, burocratizando e cerceando o acesso ao artista digamos “menos capitalizado” ao grande público.

O difícil acesso – por meios normais e legais - das rádios FM, se transforma no grande empecilho para que o público tenha conhecimento do que se produz em determinadas regiões , dificultando a projeção do artista no mercado musical.

Voltando aos vilões: o trabalho destes campeões da burocracia, consiste em apostar na formula da mesmice, que deu certo em outra gravadora, irrigando as emissoras com verdadeiros enlatados musicais, reproduzidos incansavelmente e transformando a audiência em verdadeiros ratos de Pavlov. Não importa se é a “Festa do Apê”, do incansável Latino, ou outra mediocridade qualquer, como Kelly Key ( que por acaso é cria do nosso já citado rei do Apê), o que importa é o lucro obtido com a massa aculturada e bitolada a escutar sempre a mesma coisa, dia após dia, mês após mês, nos programas de TV, nas rádios, nos shows populares e nas famigeradas “barraquinhas de CD”, que nos brindam sempre com o que há de novo(?) na cena musical nacional.

Resta aos músicos, compositores e produtores independentes, criarem e produzirem os seus próprios trabalhos, chutando portas e gerando um mercado alternativo próprio; uma espécie de mini-industria fonográfica da produção local. Só assim, o cara que ainda está começando a aprender um instrumento qualquer, no escuro de algum quarto ou garagem, vai poder sonhar em um dia viver de música e ser reconhecido por isso...

quinta-feira

Para quem ainda vier a me amar...

Quero dizer que te amo só de amor.
Sem idéias, palavras, pensamentos.

Quero fazer que te amo só de amor.
Com sentimentos, sentidos, emoções.

Quero curtir que te amo só de amor.
Olho no olho, cara a cara, corpo a corpo.


Quero querer que te amo só de amor.
São sombras as palavras no papel.


Ser-não-ser refratados pelo amor no sexo
e nos sonhos dos amantes.

Fátuas sombras as palavras no papel.
Escrevo feito um poema de carne, sangue, nervos e sêmen.

Eu te sinto na pele, não no coração.
Quero do amor as tenras superfícies

onde a vida é lírica porque telúrica,
onde sou épico porque ébrio e lúbrico.


Quero genitais todas as nossas superfícies.

Não há limites para o prazer, mas virá sempre antes,
não depois da excitação.

Não há limites para se viver um grande amor.
Mas só te amo porque me dás o gozo
e não gozo mais porque eu te amo.


Porque eu te amo, tu não precisas de mim.
Porque tu me amas, eu não preciso de ti.


No amor, jamais nos deixamos de completar.

Somos, um para o outro, deliciosamente desnecessários.
O amor é tanto, não quanto.
Amar é enquanto, portanto. Ponto.


Roberto Freire, vc nasceu para mim!!
LiLy

segunda-feira

Vaga, multiforme e não matematicamente quantificável!

Ela corre dentro de um labirinto, e não sua. Porque as meninas perfeitinhas não têm defeitos e fazem o mundo parecer ainda menos certo. Passa muralhas de mármore, pelas quais não sobem as heras, nem passeiam as lagartixas.
Não deixa pegadas, nem vestígios, pois não quer ser compreendida. Só espera que ninguém a magoe, nem antecipe seu destino. Pouco importa se não irá a lugar algum, anda em círculos há pelo menos dois segundos. Perdeu a noção do tempo, mas sabe que está atrasada. Sempre.
É feliz porque tem todas as encruzilhadas do mundo para descobrir e uma cidade inteira de novidades pela frente. Precisa tomar decisões a cada instante e sorri dentes cansados.
Sempre escolhe a saída errada mas acha bom, vai tentar de novo e de novo, até dar vontade de dormir. Dobra à direita e continua, cruzando universos de areia e pedra. Nenhum cheiro ou ruído, mas todas as possibilidades de futuro.
Não tropeça, nem esbarra. Não olha para trás, nem para o céu. Tem os pés no chão e o olho apontando pra frente. No seu encalço, as sombras de seus medos e pessoas de estimação.
Então pisa numa armadilha e escorre para dentro de uma toca. O percurso é turbulento e inebriante, até cair num tapete fofo de nuvens imaginadas. Passa, em vão, a mão na frente dos olhos e não enxerga nada. Está calma e determinada a tatear o vento e prosseguir. Sente o cheiro que costumava habitar seu travesseiro.
De repente, um aconchego de braço forte a envolve, impedindo a correria e o descontentamento. Sente seu corpo apertado contra o dele e nem imagina quem seja ele! Mas não tem vontade de gritar, parece ter sido muda a vida inteira.
E agora está metade flutuando, metade sendo sugada. Por fora, levita. Do outro lado, acontece de ter ficado vazia. Voar é negócio para poucos. Coloca os pés para fora do lençol e decide não sonhar mais esta noite.