quinta-feira

ORGULHO?

É fácil ver nas ruas camisas estampadas com as cores de Pernambuco. Por todos os lados hinos que nos remetem à nossa história. Palavras com sotaque ríspido e sarcástico: sempre prontas para combater o preconceito sulista. Estamos cientes de nosso espaço e do poder da nossa cultura. Diante da certeza inequívoca de nossas virtudes seríamos, portanto, um exemplo de sociedade justa e que valoriza - a unhas e dentes - a nossa história? Não.Pernambuco é incapaz de preservar seu arquivo público, onde as traças reinam na terra dos leões. Os pernambucanos colecionam índices de violência e desigualdades alarmantes. A economia do referido estado permanece praticamente estagnada durante décadas. Prefere-se, por aqui, a faca ao diálogo. Mata-se compulsivamente e, preferencialmente, os que não podem se defender. A nossa polícia é assaltada pelos bandidos. Nossa saúde é sugada e vergonhosa, nossa educação é reconhecida como analfabeta, nosso“mercado” cultural não é proporcional ao fluxo de nossas criações e exportações, não temos um mercado sustentável. Aliás, somos péssimos mascates. Resta saber: qual o motivo de tanto orgulho?É arrogante ver a cultura profética e conservadora de Ariano Suassuna nos incitando a dizer, entre outras coisas, que a música pernambucana - sobretudo a popular – é infinitamente superior à música norte-americana ou de qualquer outra região do planeta. Ou que o frevo e seus múltiplos acordes entoados por gênios da música local e ainda seus passos tão complicados - domesticados por Nóbrega para exportação - são impossíveis de se reproduzirem com fidelidade e dignidade por alguém que não seja compatriota (logo chamamo-los de ladrões). Ou ainda, que a produção de esculturas de barro como única fonte de renda de cidades como Tracunhaém é motivo de empáfia, mesmo sabendo que existe uma população excluída da globalização naquele município.É de fazer chorar... Isso sim! Principalmente vendo alguns pernambucanos tão arrogantes quanto os sulistas ( nortistas, centro-oestistas, ou algum outro adjetivo pátrio pertinente) que nos vêem como um personagem de um folclore, que se orgulham de nossas proezas e esquecem de nosso desenvolvimento na cadeia produtiva nacional. Este tipo de orgulho não pode nos envaidecer. Resta-nos a pátina sobre os velhos problemas que reveste de cultura: a miséria, a ignorância e a desigualdade que impera Pernambuco. Não devemos mudar a paisagem bucólica e árida do sertão sob pena de descaracterizar nossas raízes? Não devemos mudar a invariável realidade pobre da Zona da Mata (não menos pobre devido aos pecúlios fornecidos aos mestres dos maracatus para que mantenham suas raízes, e sobrevivam dela)? Bom mesmo são as ruas sem asfalto, os buracos nas estradas, as crianças circenses nos sinais, os embusteiros desvirtuando nossa dignidade e nossos bens, nossas rádios promovendo “hits” de uma MTV prostituída, saber que existem várias rádios comunitárias no estado (porém sem a audiência), ver nossos artistas granjeando cachês, no mínimo, 5 vezes menores que os dos sulistas (e até alguns pernambusulistas), melhor é preservar intacta as feiras populares e sua total falta de organização logística, o que as torna cult, ao invés de sustentáveis e atraentes.Diante desta miséria, o refrão da cultura que orgulha e silencia nossos problemas por ostentar nos como diferentes – embora sejamos iguais à parte substancial do Brasil; portanto, miseráveis, me leva ao raciocínio triste, porém lógico de que se continuarmos vestindo fantasias vamos apenas ter orgulho da nossa cultura. Vamos esquecer de estudar, planejar estratégias, revolucionar e colocar em prática um Pernambuco inovador, que funciona em diversos aspectos, inclusive como criador e re-criador da cultura Brasileira.

Natural seria perguntar se o orgulho de nosso estado não é a origem da nossa miséria, ou a venda que nos impede de enxergar, dificultando o processo de evolução. Em Pernambuco a tradição vence sempre a modernidade, condenando-nos ao passado, incorruptível porque intangível.

Neste discurso, que até parece revoltado, vos digo apenas: ME ORGULHO DE ACREDITAR NUM FUTURO MELHOR PARA PERNAMBUCO!E que ninguém me condene por isso.